segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Mateus



Queria dizer muitas coisas... mas os pensamentos se embaralham.
O Mateus, aquele menininho que estava esperando pelo doador de medula óssea que fosse compatível com ele, não resistiu, e faleceu ontem, dia 09 de setembro de 2007.
Infelizmente, ele não pôde esperar algumas pessoas voltarem de viagem. Nem outras pessoas resolverem seus problemas para depois irem ao hemocentro. Nem outras pessoas que até pensavam que ele era um coitadinho se tocarem que ele não era um coitadinho e pararem de pensar em qualquer coisa... Essas foram algumas respostas que me deram nessas duas últimas semanas.
Era só ir lá e fazer a doação... qualquer pensamento era dispensável! Precisava era mais atitude!
Isso – a doença - pode acontecer com qualquer um. Aconteceu com ele, mas poderia ter sido comigo, com um amigo, um parente, com meu próprio filho...
Há uns 20 anos, eu li um texto do Léo Jaime na Capricho. Lembro direitinho que ele dizia que as únicas coisas que acontecem com os outros, é ganhar na loteria e ser entrevistado em pesquisa para eleição presidencial. Do resto, tudo, absolutamente tudo pode acontecer com a gente. Ele não está certo?
E é por isso que eu fico triste. Estava nas nossas mãos. Estava na mão de alguém. E esse alguém, por alguma razão, não apareceu.
Hoje, enquanto eu fazia meu filho dormir, ele abraçado comigo, eu passando a mão no cabelinho fininho dele, sentindo o perfuminho dele... aqueles momentos tão doces que poderiam durar a eternidade... fiquei pensando no que, exatamente naquele momento, estaria pensando a Clarissa, mãe do Mateus. Pensei nas mães que poderiam estar acariciando o cabelinho de seus filhos numa cama de hospital, numa sala de espera, ou pior, numa maca jogada num corredor frio desses hospitais indecentes que a gente vê sempre na televisão...
Só me restou agradecer a Deus pelo filho saudável que ele me deu. E fazer uma oração pedindo a Ele que conforte o coração, não só dessa mãe, mas de todas as outras em situação parecida.

Ah...
Não poderia deixar de dizer aqui...

EU ESTAVA SIM, MUITO PREOCUPADA COM A SITUAÇAO DO MATEUS. E SIM, EU IMAGINO A QUANTIDADE DE PESSOAS E CRIANÇAS QUE NÃO CONSEGUEM UM DOADOR (1 PARA 100.OOO). TAMBÉM ME SENSIBILIZO COM ISSO.
SIM, O CASO DO MATEUS ESTAVA NA MÍDIA (COMO SE EU FOSSE ALGUMA ALIENADA E RETARDADA, E NÃO SOUBESSE QUE EXISTEM MILHOES DE OUTRAS PESSOAS NO MUNDO PASSANDO POR ISSO).
SIM, A FAMÍLIA DELE TINHA CONDIÇOES DE MANTÊ-LO EM UM HOSPITAL QUE É REFERENCIA NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM CÂNCER – ISSO, QUE EU SAIBA NÃO É CRIME.
TER DINHEIRO PARA CUIDAR DO PRÓPRIO FILHO, QUE EU SAIBA, TAMBÉM NÃO É CRIME!!
ME DISSERAM PARA FICAR TRISTE POR AQUELES QUE NÃO TEM CONDIÇOES DE SEREM TRATADOS... ESSA EU PREFIRO NEM COMENTAR!


Se há um consolo nisso tudo, é de que um monte de gente se mobilizou e foi fazer o cadastro. Tive notícias de que, só no hemocentro de Fortaleza, o número de cadastrados triplicou. Isso sim, é uma maravilha!
Sem hipocrisias!
Por razoes que não cabem mencionar aqui, algumas estúpidas, outras sérias, tinha deixado para ir amanhã a tarde com meu marido. Só não me sinto mais inútil porque consegui com que algumas pessoas fossem (até agora, que eu sei, Valéria, Ermim, Milena...). Mesmo assim, ainda que tardiamente, vamos fazer o nosso papel. Quem sabe Deus me dá a alegria de poder ajudar alguém, como eu gostaria que me ajudassem, se eu estivesse precisando.
Mas não estou conseguindo deixar de sentir esse aperto no coração, e nem de ouvir uma voz que insiste em gritar na consciência que eu poderia ter feito mais...
Que o Mateus descanse em paz.
Que Deus conforte seus familiares.
Que todo mundo continue na campanha.

"Aqueles que amamos não morrem. Apenas partem antes de nós. "

Rúbia
 
Escrita por Rúbia at 14:42 | Permalink | 1 comments